UROLOGIACAU

 CENTRO DE UROLOGIA E NEFROLOGIA

PETRÓPOLIS - CARLOS GOMES

Síndrome da bexiga dolorosa/cistite intersticial.

O que é cistite intersiticial?

 

                  A cistite intersticial, também conhecida como síndrome da bexiga dolorosa, é uma doença inflamatória da bexiga de causas ainda não são completamente conhecidas. A inflamação determina uma lesão do urotélio.                As pessoas acometidas percebem que os sintomas tem origem na bexiga e geralmente se apresentam como uma sensação desagradável de dor, pressão ou desconforto. Geralmente essas alterações persistem por um período maior que 6 semanas. Os sintomas podem piorar com o enchimento da bexiga. Os pacientes frequentemente urinam para obter alívio dos sintomas, mas a dor pode ocorrer durante ou após a micção.

             O urotélio é o epitélio que reveste a bexiga, que também desempenha uma função protetora prevenindo a aderência de bactérias e cristais presentes na urina. Ele também evita a penetração de várias substâncias contidas na urina que, de outra forma, provocariam dor muitas vezes constante e insuportável.

 

Quais são as causas?

 

              As causas da doença ainda não são completamente conhecidas, porém recentemente houve um considerável aumento do conhecimento sobre a síndrome da bexiga dolorosa/cistite intersticial.

              Os indivíduos acometidos frequentemente apresentam outras doenças. Entre essas, há uma maior incidência de problemas cardiovasculares, Parkinson, cefaleia, fibromialgia, artrite reumatoide, lúpus, diabete, hipotireoidismo, doenças e distúrbios gastrointestinais, doenças psíquicas e outros.

              Recentemente a doença tem sido atribuída a causas imunológicas. Observou-se que até 40% dos indivíduos portadores de cistite intersticial podem sofrer de doenças alérgicas o que representa o dobro da população em geral.

               Fatores genéticos podem estar envolvidos, porém os mecanismos são apenas pacialmente conhecidos.

               A doença pode ser considerada como um distúrbio generalizado do organismo, não somente através de sua associação mais frequente com outras doenças, mas também devido ao impacto dos sintomas sobre a saúde do individuo.

 

Quantas pessoas sofrem dessa doença?

 

                Nos últimos anos descobriu-se que essa doença ocorre com uma frequência maior do que se imaginava. Nos Estados Unidos, estima-se que mais de 1.000.000 de pessoas sofram dessa doença. É muito mais frequente nas mulheres que representam 80 a 90% de todos os casos. Apenas 10 a 20% são homens. Não há um consenso sobre a incidência em crianças, mas  alguns indivíduos referem sintomas suspeitos durante a infância.

 

Quais são os sintomas da doença?

 

                        As pessoas acometidas percebem que os sintomas tem origem na bexiga e na maioria das vezes se apresentam como uma sensação desagradável de dor, pressão ou desconforto. Geralmente essas alterações persistem por um período maior que 6 semanas. Os sintomas podem piorar com o enchimento da bexiga. Os pacientes frequentemente urinam para obter alívio dos sintomas, mas a dor pode ocorrer durante ou após a micção.

                 A doença pode se manifestar de formas muito diferentes, muitas vezes imitando doenças mais comuns como a infecção urinária. A dor pélvica constante ou intermitente, pode ser sentida em vários locais diferentes e muitas vezes é afetada pela menstruação e relações sexuais. Nessa situação é comum pensar que se trata de um problema ginecológico. Há estudos que mostram que de 31 a 81% das pacientes ginecológicas com dor pélvica crônica podem ter cistite intersticial.

                 Nos homens, a dor pode comprometer o pênis, testículos, escroto e períneo. Frequentemente a ejaculação é dolorosa. Esse quadro é facilmente confundido com outras doenças e muitos casos diagnosticados como prostatite crônica, provavelmente teriam cistite intersticial

                 Os sintomas mais comuns são: urgência urinária; dor/ urinar com dor; dor logo acima do púbis; dor no períneo; sensação de espasmos na bexiga; pressão púbica; dor nas relações sexuais; depressão e sangramento na urina.

                 Em até 90% dos casos, os sintomas parecem piorar com algum tipo de alimento.

 

 Como a doença é diagnosticada?

 

                 Não há um exame específico que permita diagnosticar a cistite intersticial.  

                 O diagnóstico da doença é muitas vezes difícil. É comum que transcorram vários anos e muitos médicos sejam consultados antes que se tenha o diagnóstico definitivo. Geralmente a avaliação cuidadosa dos sintomas e o exame médico são suficientes para considerarmos esse diagnóstico.

                 Exames endoscópicos da bexiga, biópsia, urodinâmica e outros testes podem ser úteis em casos selecionados.

 

 

 

 Figura.O exame da bexiga pode mostrar lesões ulceradas, com vasos sangüíneos anormais, porém nem todos os pacientes apresentam esta alteração. Esse exame normalmente é realizado sob anestesia, o que permite uma hiperdistensão da bexiga. Frequentemente, as pessoas referem melhora dos sintomas após a hiperdistensão.

 

             A biópsia da bexiga geralmente é realizada com a cistoscopia e o exame da bexiga pelo patologista, pode afastar câncer e revelar infiltrados bastantes sugestivos da doença.

             O teste do potássio consiste em testar a sensibilidade da bexiga a uma solução de cloreto de potássio que nada provocaria em uma bexiga normal. Testes positivos são revelados por aumento da sensibilidade a essa substância, entretanto, seu valor é discutível.

             A avaliação urodinâmica muitas vezes é utilizada para diagnóstico diferencial com a bexiga hiperativa.

 

Tratamento:

             A presença de lesões ulceradas na bexiga (Úlcera de Huner), parece definir uma doença completamente diferente daquela onde essas úlceras não estão presentes, e as medidas terapeuticas são muito diferentes.

             As pessoas acometidas da doença frequentemente apresentam períodos de melhora ou piora modificando a resposta ao tratamento.

            Quando as úlceras estão presentes, as medidas terapeuticas são voltadas principalmente para a bexiga, incluindo cauterização ou ressecção das úlceras, instilação de medicamentos, hidrodistensão da bexiga e outros.

            Na ausência das úlcerações o tratamento inclui uma série de medidas incluindo dieta e uma série de outras ações. 

               As sensibilidades alimentares são cada vez mais conhecidas, porém, nem sempre são diagnosticadas. Os  alimentos mais frequentemente envolvidos com alergia alimentar são: ovos, peixes e frutos do mar, soja, amendoim, nozes, castanhas e glúten. O consumo desses alimentos pode desencadear uma reação alérgica no organismo. A bexiga contém células capazes de liberar grandes quantidades de histamina e outras substâncias inflamatórias causando dor e outros sintomas irritativos.

            Alguns estudos sugerem que mais de 90% pessoas conseguem identificar algum tipo de alimento, bebidas ou suplementos alimentares que provocam piora dos sintomas. Para alguns, os sintomas podem piorar até cerca de 4 horas após o consumo desses alimentos.  Sendo assim, restrição alimentar pode trazer benefícios. 

             Entre os alimentos que devem ser evitados podemos citar o café, bebidas alcoólicas, alimentos temperados. Todos os tipos de temperos industrializados, vinagre e molhos para saladas, são altamente desaconselháveis.

             Infelizmente a lista de alimentos potencialmente prejudiciais é ampla e o efeito sobre cada indivíduo é variável. Alguns esquemas de tratamento recomendam afastar todos os alimentos suspeitos durante uma semana. Se houver melhora dos sintomas, cada alimento pode ser reintroduzido gradativamente, avaliando-se seu efeito sobre uma possível piora dos sintomas.

             Se você gosta de comida mexicana, tailandesa ou indiana, esqueça. Pimenta, nem pensar.

             O consumo de alimentos ou suplementação com substâncias antioxidantes também poderia trazer benefícios. A neutralização da acidez urinária através de medicamentos, frequentemente produz um alívio dos sintomas.

 

Como é possível alimentar-se, considerando todas as restrições?

             Leia nossa página sobre revisão de livros.

              Relação de alimentos permitidos.

 

Exercícios físicos, fisioterapia pélvica, eletroestimulação, acupuntura.

             Os exercícios físicos liberam endorfinas, substâncias que causam uma sensação de prazer e alteram os níveis de percepção da dor. Os exercícios pélvicos específicos têm sido cada vez mais valorizados e frequentemente são recomendados em quase todos os esquemas de tratamento.

              A fisioterapia pelvica tem papel fundamental com medidas voltadas à desensibilização de pontos dolorosos (pontos de gatilho) e relaxamento muscular.

 

Medicamentos.

              Há vários medicamentos que podem ser utilizados, muitas vezes agindo de maneiras diferentes. 

              Há aquele grupo de medicações que age reconstituindo a camada protetora da bexiga. Entre esses; encontramos, o ácido hialurônico, a heparina e o Elmiron ®.

              A amitriptilina é um antidepressivo que pode ser utilizado, devido a sua ação analgésica. Basicamente, essa medicação eleva o limiar à dor. Recentemente, injeções de toxina botulínica, na bexiga também tem se mostrado úteis para o controle da dor.

              Há medicações que agem interferindo sobre a resposta inflamatória, melhorando os sintomas. A hidroxizina e a ciclosporina são as drogas mais utilizadas.

              O DMSO instilado na bexiga foi um dos primeiros tratamentos empregados. Esse medicamento tem produzido resultados em grande número de pacientes agindo de várias maneiras.

              O uso de aspirina e alguns anti-inflamatórios podem provocar piora dos sintomas.

 

Dr. Paulo Roberto Sogari

CREMERS 10865